A velha casa ainda existe,
já quase en ruínas, mas resiste
às chuvas e as fortes vendavais...
É hoje a morada dos morcegos
e albergue dos marginais;
Ringem as portas,
Ringem as janelas...
Tudo escoimado pelo tempo.
Ao longe
ouve-se uma voz cruciante,
enlouquecida, a gritar frenéticamente:
- Benedito! Benedito!
Onde estás, negro maldito?
Traz a luz de candieiro!
Oh! Escravo do inferno!
Eis que surge,
no limiar da porta,
o velho pai Benedito,
sorrindo, clareando o caminho
com sua luz espargindo...
Falou-lhe,então, baixinho:
- Sinhô, Sinhozinho, não há mais luz no candieiro,
não há mais senzalas, nem mais cativeiro.
Foi extinta a escravatura...
- E esta luz, negro maldito, de onde vem?
- A luz que trago comigo?
É a luz que Nosso Sinhô me concedeu
pelas injustiças e pelas surras
que o Sinhô tanto me bateu.
Os olhos do patrão esbugalharam-se de espanto
e, naquele instante, compreendeu
que não existia mais;
era só uma alma penada,
sem mais direito, mais nada...
Ajoelha-se,
chora, grita arrependido
pedindo clemência aos céus
e ao negro Pai Benedito
que, sorrindo, lhe estende as mãos,
transmitindo-lhe a paz...
Concedendo-lhe o perdão.
A Velha Casa Branca
Áurea de Lucca Pâncaro
foi declamada em vários CTG's de Porto Alegre por Danielle Carvalho.