terça-feira, 24 de agosto de 2010

A VELHA CASA BRANCA



A velha casa ainda existe,

já quase en ruínas, mas resiste

às chuvas e as fortes vendavais...

É hoje a morada dos morcegos

e albergue dos marginais;

Ringem as portas,

Ringem as janelas...

Tudo escoimado pelo tempo.

Ao longe

ouve-se uma voz cruciante,

enlouquecida, a gritar frenéticamente:

- Benedito! Benedito!

Onde estás, negro maldito?

Traz a luz de candieiro!

Oh! Escravo do inferno!


Eis que surge,

no limiar da porta,

o velho pai Benedito,

sorrindo, clareando o caminho

com sua luz espargindo...

Falou-lhe,então, baixinho:

- Sinhô, Sinhozinho, não há mais luz no candieiro,

não há mais senzalas, nem mais cativeiro.

Foi extinta a escravatura...

- E esta luz, negro maldito, de onde vem?

- A luz que trago comigo?

É a luz que Nosso Sinhô me concedeu

pelas injustiças e pelas surras

que o Sinhô tanto me bateu.


Os olhos do patrão esbugalharam-se de espanto

e, naquele instante, compreendeu

que não existia mais;

era só uma alma penada,

sem mais direito, mais nada...

Ajoelha-se,

chora, grita arrependido

pedindo clemência aos céus

e ao negro Pai Benedito

que, sorrindo, lhe estende as mãos,

transmitindo-lhe a paz...

Concedendo-lhe o perdão.




A Velha Casa Branca

Áurea de Lucca Pâncaro


foi declamada em vários CTG's de Porto Alegre por Danielle Carvalho.